Compreender e desculpar sempre,
porque todos necessitamos de compreensão e desculpa, nas horas do desacerto, mas
observar a coerência para que os diques da tolerância não se esbarrondem,
corroídos pela displicência sistemática, patrocinando a desordem.
Disse Jesus: "amai os vossos
inimigos".
E o Senhor ensinou-nos realmente a
amá-los, através dos seus próprios exemplos de humildade sem servilismo e de
lealdade sem arrogância.
Ele sabia que Judas, o discípulo
incauto, bandeava-se, pouco a pouco, para a esfera dos adversários que lhe
combatiam a mensagem renovadora...
A pretexto de amar os inimigos,
ser-lhe-ia lícito afastá-lo da pequena comunidade, a fim de preservá-la, mas
preferiu estender-lhe mãos fraternas, até a última crise de deserção,
ensinando-nos o dever de auxiliar aos companheiros de tarefa, na prática do bem,
enquanto isso se nos torne possível.
Não ignorava que os supervisores
do Sinédrio lhe tramavam a perda...
A pretexto de amar os inimigos,
poderia solicitar-lhes encontros cordiais para a discussão de política
doméstica, promovendo recuos e concessões, de maneira a poupar complicações aos
próprios amigos, mas preferiu suportar-lhes a perseguição gratuita,
ensinando-nos que não se deve contender, em matéria de orientação espiritual,
com pessoas cultas e conscientes, plenamente informadas, quanto às obrigações
que a responsabilidade do conhecimento superior lhes precoitua.
°°°
Certificara-se de que Pilatos, o
juiz dúbio, agia, inconsiderado...
A pretexto de amar os inimigos,
não lhe seria difícil recorrer à justiça de instância mais elevada, mas preferiu
agüentar-lhe a sentença iníqua, ensinando-nos que a atitude de todos aqueles que
procuram sinceramente a verdade não comporta evasivas.
Percebia, no sacrifício supremo,
que a multidão se desvairava...
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°°°
Jesus entendeu a todos, beneficiou
a todos, socorreu a todos e esclareceu a todos, demonstrando-nos que a caridade,
expressando amor puro, é semelhante ao sol que abraça a todos, mas não transigiu
com o mal.
Isso quer dizer que fora da
caridade não há tolerância sem coerência.
(De “Opinião
Espírita”, de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira,
pelos Espíritos Emmanuel
e André Luiz)